sábado, 31 de outubro de 2009

Volte sempre

Hoje, ela veio me visitar. Chegou devagarzinho sem fazer barulho quase que na ponta dos pés, espalhou flores pela sala e abriu as janelas.
Com uma delicadeza inigualável, abriu a porta do meu quarto enquanto eu ainda dormia, num sono quase profundo e encantador. Levemente fui sentindo a sua presença, mas não quis me mover.
Caminhou até a minha cama, e aos poucos foi me abraçando de forma peculiar, familiar, isso me fez sorrir, ainda sem abrir os olhos.
A luz do sol tocava meu corpo pelas frestas da cortina, estava me sentindo leve.
A presença dela me consumia por inteiro, queria poder tê-la todos os dias da minha vida. Aos poucos fui acordando, e senti que ela já tinha se retirado do quarto, mas pelo suave cheiro de flores que sentia, tinha certeza que ela estava por perto.
Preparei um café da manhã especial que até esqueci da dieta, era tão bom desfrutar essa energia boa que ela me causava.
E como de costume, não relutei quando ela deu indícios que passaria o dia todo ao meu lado.
Durante todo aquele dia, o calor intenso não me incomodou, o mau humor alheio não me feriu e as notícias tristes não me abalaram.
E por mais mágico que isso possa parecer, só pessoas de coração puro, de alma verdadeira, trocaram palavras, experiências e passos comigo naquele dia.
Tenho certeza, era culpa dela, ela sempre fazia isso. Sempre. Tem o magnífico dom de me mostrar os caminhos que devo seguir, em quem confiar, e que principalmente devo ouvir meu coração.
E a tarde agradável foi terminando num lindo pôr-do-sol, inesquecível. Não foi na beira da praia, não foi em um parque, foi ali sentada no sofá da minha sala olhando pela janela, sentindo sua voz meiga e fina me dizendo que sempre, sempre estará ao meu lado, e que por mais difícil que seja o obstáculo ela sempre tentará vir correndo o mais rápido possível para me abraçar, como quem abraça uma criança em prantos.
As horas passaram rápidas e o sono veio chegando lentamente, e como prometido ela me colocou para dormir, me cobriu cuidadosamente, e me deu um beijo. Disse que voltaria toda vez eu a chamasse, por mais baixinho que fosse.
Apagou a luz e saiu.
Depois desse dia, a sua presença se tornou cotidiana, bastasse que eu pronunciasse: FELICIDADE.


(escrito por Bruna Lugarinho)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma noite de primavera


Ela se encontrava ali sentada no meio da sala, junto ao um cinzeiro lotado de guimbas de cigarro, uma garrafa de vinho pela metade e um leve pilequinho que a fazia ficar com um rubro encantador na face. Era uma noite de primavera, e a brisa fresquinha invadia a sala propiciando agradáveis conversas que invadiam as horas da noite.
Era ela e ele.
Ela não acreditava na cena que via, era como se ele tivesse saído dos seus sonhos e estivesse ali, materializado, sentado no chão da sua sala, fazendo-a rir,
Mal ele sabia que o riso tão feliz que brotava no rosto dela, não era pelas histórias mirabolantes que ele contava apenas para impressionar, era simplesmente por que ela amava-o de uma forma tão infantil, tão pura que não acreditava que pudesse ser feliz com tão pouco.
Ela olhava pra ele, querendo despi-lo, não as suas roupas, mas a sua alma desvendando os seus segredos mais íntimos, seus medos e suas inseguranças.
Era como se a cada taça que esvaziasse houvesse um brinde e o pedido fosse o mesmo para todos, aquela noite não podia terminar.
Era um amor de infância, um amor infantil, um amor platônico.
Ela sempre o amou em silêncio, e ele sempre a protegeu. A tratava como uma flor delicada, daquelas que se colocam no cabelo para enfeitar, nunca percebeu que ela havia desabrochado, e como ficava majestosa quando estava ao seu lado.
Pegaram umas fotografias antigas, relembraram momentos, sentimentos, brigas,...., e até o primeiro beijo. O coração dela disparou, não só lembrou, mas como também sentiu o toque dos lábios cada vez mais perto. Ela não sabe quantos segundos ficou ali,de olhos fechados e sonhando com o beijo, mas quando abriu os olhos quase num rompante o viu parado na janela, ele olhou para o relógio, ela sentiu um aperto no peito. Escutou o barulho do molho das chaves, e sua voz grossa dizendo que já era tarde e que era melhor ele ir.
Ela quase num ímpeto levantou bruscamente do chão, pensou em segurar as suas mãos, impedi-lo de ir embora mais vez, mas a sua coragem a traiu. Ela levantou como uma boa anfitriã e respeitosamente beijou a sua face.
A porta bateu, ele se foi, mais uma vez.
Terminou a sua garrafa de vinho sozinha, fumou mais uns três cigarros e cuidadosamente guardou as fotografias.
Quem sabe um dia...

(escrito por Bruna Lugarinho)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Castelo de Areia




O dia está nublado, e Amanda acordou se sentindo um dia frio, um dia triste,...
Seus olhos não negam a expressão que esta sentindo. Medo? Insegurança? Tristeza?
Acho que um pouco de tudo. Ela sente como se as palavras que lhe foram proferidas estivessem fincadas no seu peito como estacas, e essas mesmas palavras insistindo em soltar gemidos de dor como também risinhos sarcásticos,...
Ela pára, esquece o que ia fazer, olha para o telefone, o mesmo telefone que por tantas vezes tocou para ouvir a voz de quem ela ama dizendo coisas que tornavam o seu sorriso constante na sua face. Mas ele não toca, e ela não sabe se vai tocar novamente, e se tocar? O medo faz dela um ser frágil,...
A briga da noite anterior fez ela ter lágrimas como de uma criança, que perde seu equilíbrio, cai e se machuca.
O sono não veio, a insônia duelou com as lembranças, com as fotos que refletiam no feixe de luz que teimava entrar no quarto. As lembranças pareciam tão reais, a felicidade tão evidente, o sorriso tão sincero, será que esse tempo todo ela brincou com a sua imaginação e transformou o que era superficial em essencial. A cada lágrima que descia compulsivamente fez o seu castelo de areia ser destruído,..., se tornar algo para ser pisoteado e nunca mais lembrado.
O seu amor foi posto em prova, foi sumariamente apontado em erros e defeitos. E como todas às vezes acreditou que iria chorar tanto, que nunca mais ia conseguir viver, que nunca mais ia acordar,...
Amanda acordou.
Junto ao seu amanhecer invadido de dúvidas, a fina chuva caía no dia nublado como se fossem as lágrimas que nasciam do seu rosto enquanto ela dormia. Ela se sentiu perdida.
Tentou terminar as coisas que tinham pendentes do dia anterior, mas nada, nada a fazia enxergar com veracidade o rumo que os fatos tomaram.
No meio da dor, ela suplicou por inúmeras vezes para que ele não a deixasse, mas ao passar das horas desse dia tão cinza ela percebeu que ele podia ter razão. E que os sonhos viraram areia, e tanto ele quanto ela não tem certeza se valia a pena recomeçar um outro castelo tão frágil.
A areia esta úmida, não seria melhor deixar isso pra depois.



(escrito por Bruna Lugarinho)

domingo, 11 de outubro de 2009

Da minha alma complexa


Eu canso
Eu canso da mesmice
Eu canso da rotina
Eu canso das palavras
Eu canso dos sorrisos
Eu canso das fotos já vistas
Eu canso do futuro que ainda vou viver
Eu gosto do meu mundo
Particular
Peculiar
Intenso
Nobre
Vazio
Sonhador
Eu quero começar tudo de novo
Não quero errar mais
Não quero sonhar mais
Quero viver
Projetar me cansa
Projetar me engana
Eu faço tudo pra fugir
Do que me atordoa
Do que me inebria
Eu quero dançar
Cansar
Suar
Surtar
Não quero ser fútil
Não quero ser útil
Quero ser eu
Eu
Errada
Certa
Humana
Possessiva
Saltitante
Descontrolada
Risonha
Enganada
Debochada
Feliz
Quero que a vida seja um banho de mar
Descarrego
Bronzeada
Com gosto de água de coco
E um chopp no final de tarde
Eu quero ser um pôr do sol
Lindo
Apaixonante
Aclamado
E quando eu cansar
Faço da chuva o meu choro
E tento recomeçar tudo outra vez.

(escrito por Bruna Lugarinho)