quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pode entrar



Eu cheguei para ficar
Entrei sem medo da entrega
Sem duvidar dos sorrisos
Se eram ou não sinceros



Eu não bati à porta
Entrei com as minhas malas
Empilhando os sapatos
Espalhando minhas roupas



Não me dei tempo de pensar
Falei, falei, falei até me cansar
Curei minha voz em ouvidos atentos
Deitei no colo invisível da paz



Penso no desalento de outrora
No frio intenso percorrendo a alma
Garrafas e cinzas de todos os tipos
Cacos de sangue cortando o vidro



Em mosaicos embaçados me vi refletida
Um olho negro e o outro vermelho
Arrepio de ponta à cabeça
Havia um segredo



A história de amor num passado presente
Um triângulo aberto no peito de quem sente
Uma vida desde sempre
O reconhecimento de que o agora está diferente



Hoje eu gosto muito mais das flores
Assim como das manhãs
Cultivo um jardim colorido
E guardo as pétalas secas num livro escrito à mão



Coração aberto além dos anos
Em nome da gentileza e da lealdade
Com a idade dos anjos
Deixo-me entrar então



Laço forte e bem dado
Pela verdade irônica dos fatos
Um destino traçado
Três corpos fadados



...em uma única freqüência.






(escrito por Michelly Barros)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Anjo


Com um compasso acelerado
Meu coração volta a pulsar
Meus olhos tentam enxergar as cores

Que eu perdi na ira da minha demência



No medo de perder algo que não se perde
No medo de escutar as palavras

Que meus atos ferem a quem quer me ver
Sorrir


Eu pisei nos meus sonhos

No sentimento alheio

Como uma criança mimada que cai,

Se machuca e bate os pés

Em uma atitude quase insana


Me joguei no chão

Pedi clemência

Ao ver o mais puro de todos os amores

Enxugando lágrimas


E da insanidade surgiu a realidade

Cacos, apenas cacos
Um tempo,
dois corpos

Olhos que fogem

Um corpo que se toca
sem abraços



Relógio, sapateado, relógio,
Relógio, pressa, relógio

Relógio, medo, relógio


Relógio, relógio,...


Um anjo me abraçou

O relógio caiu no chão

Junto com as lágrimas da menina solitária
Em um pedido de amparo
O sorriso de quem foi ferido

Transformou a decisão em oração


o anjo se foi,...


Mas com a certeza

De que duas almas
Predestinadas

Ficaram em paz





(escrito por Bruna Lugarinho)

sábado, 12 de dezembro de 2009

O laço




Existem laços
Invisíveis
Insanos
Um laço desbotado
Amassado
Desamarrado
Um laço que pulsa
Pulsa num carinho
Eterno
Vibrante
Um laço visceral
Um laço de energia
Um laço espiritual

O que aconteceria se eu desatasse esse laço?
Sobraria o nó?

O nó
Do querer
Do poder e
Do estar
O nó
Do abraço
Do beijo
Das risadas e
Das lágrimas

O laço foi desfeito
Mas ainda resta o nó

E se depois de desatado
Eu não souber como amarrar
De novo e
Construir
Um laço meio sem jeito
Meio sem graça
Meio torto
Meio remendado

O papel amassado
A pele arrepiada
O rosto molhado
Sobreviria eu
Sem o nó

Minhas mãos fogem
Da tentação

Eu toco no laço
Mas meu medo
Me impede
De endireitar
Ou desatar

E eu fico ali,
Olhando para ele
Meio sem jeito.

E sinto que o nó
É o que me faz pulsar
Em pensamentos de ser
Não ser
Arriscar
Temer

Respiro fundo

O nó
O laço
Já fazem parte de mim

Tão quanto às lágrimas
Que derramo ao ver esse laço
Desengonçado.

(escrito por BRUNA LUGARINHO)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


Um silêncio invade a minha alma
só ouço a barulho da chuva
Existem fotografias amassadas sobre a cama
e um corpo estirado
Inerte
tentando, pulsando, chorando, fugindo
uma palavra, futuro
Amassando em pensamento, com os punhos cerrados
um buquê de noiva que nunca há de existir

Uma ânsia de vômito,
de palavras, lágrimas e feridas
Um riso quase que debochado
um riso sem sentido

Mais um cigarro é aceso
procura, lembra, lembra, pensa
Eu deito ao lado de um estranho
mas sua face me parece familiar

O suor, a saliva
hoje tem gosto amargo
Será o gosto do fim?

São dois bonecos desgastados,
desbotados pelo tempo
desgastados pelo do querer
desarcebado
esgotado

as palavras perderam o som
as bocas não se encaixam
os corpos não se procuram
eles se perdem
São unidos pela convivência
pela conveniência

Ele dorme
Ela escreve

O amanhã vai chegar daqui a pouco
e daqui a pouco ela esqueçe tudo
e começa tudo outra vez
numa tentativa ousada
de tentar ser apenas amada
mais um dia...


(escrito por Bruna Lugarinho)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Desde sempre!


Eu sempre soube o que era sintonia
Mas não tinha ninguém para compartilhá-la
Não que isso se compartilhe
Mas tentava encontrar coincidências
Para estreitar laços

Procurei você
Em olhares, bares, abraços, risadas
Chorei por muitas vezes
Ao te confundir com alguém

Eu não tenho muito pra te oferecer
Não tenho muitos amigos
Não tenho uma história de vida engraçada que te faça rir
Meu passado não é muito alegre

Você entrou na minha vida com uma ressaca no mar
Que deu medo
Que de tão intensa essa energia
Pensei em recuar

Mas sua risada e sua voz
Me trazem alegria
Me trazem paz

Suas palavras tropeçam com as minhas
Seus pensamentos saem pela minha boca como uma criança que fala sem pensar
Seu olhar me invade e me cala quando sinto medo

A sua risada é um misto de felicidade com utopia
É silenciosa aos olhos de quem presencia
Mas entra nos meus ouvidos como um som agudo

Eu sinto você presente no meu dia
Mesmo que de longe

Em uma tarde de domingo
Um domingo que poderia ser mais um de tantos que te esperei
Eu deixei essa ressaca me invadir
E desabei em choro

Acho que no momento certo
Num momento nosso
Essa sincronicidade mútua
Nos fez acreditar que nada é por acaso

Uma simples palavra
Um simples pedido
Um abraço
Quase uma redenção

E no seu templo sagrado
Eu fui batizada

Ali, de frente para o Cristo Redentor
Ao lado da bateria
Em frente aos gigantes

E pra sempre eu vou lembrar do pedido que te fiz
Entre lágrimas
Abraçadas
Nunca mais, saia de perto de mim

Eu segui para um lado
Você para outro

Mas extasiadas de felicidade
Tendo a certeza de que é,
DESDE SEMPRE!!


(escrito por Bruna Lugarinho)

sábado, 28 de novembro de 2009

A porta esta aberta...


É engraçado como o tempo passa, e o nosso posicionamento diante da vida muda A vida por diversas vezes tirou o meu sorriso, e me arrancou lágrimas Por diversas vezes me fez chorar baixinho, enquanto eu queria falar tudo o que estava pensando Me fez pensar em que guardar o que se quer falar, preserva amizades A vida me ensinou que às vezes é preciso estar só Entrar em conexão consigo mesmo E que você nunca pode doar o amor que você deixa de dar a si mesmo para outras pessoas, por mais bozinhas que elas sejam Que nem todo mundo entende o que é energia, conexão Que para amar, precisa apenas de uma reciprocidade, Amar, só, causa danos irrecuperáveis. Eu tenho uma teoria de vida livre Mas isso não é bem aceito Nem todo mundo gostar de dividir amigos Nem todo mundo gosta de escutar a verdade Nem todo mundo dá valor a uma preocupação verdadeira Eu já tentei ser amiga, de gente que não dá valor a um simples telefonema Mas que quando está só,..., liga para o seu telefone Eu já vi e vivi tantos casos de interesse, que hoje eles nem me abalam mais Apenas me incentivam a ser uma pessoa melhor Justa, talvez,... Eu queria ser menos sensível, ou não De repente essa sensibilidade ainda consegue atrair pessoas iguais a mim Que sofrem na mesma escala Ser sensível é démodé,.. Hoje eu não me privo de responder a altura Hoje eu não durmo pensando, no que poderia ter dito Eu não quero ferir ninguém injustamente com as minhas palavras Mas também não quero ser ferida Quero um abraço simples e sincero ... Ou sinta-se à vontade para ir embora... (escrito por Bruna Lugarinho) “...Quando eu olhar pro lado Eu quero estar cercado Só de quem me interessa..."

sábado, 31 de outubro de 2009

Volte sempre

Hoje, ela veio me visitar. Chegou devagarzinho sem fazer barulho quase que na ponta dos pés, espalhou flores pela sala e abriu as janelas.
Com uma delicadeza inigualável, abriu a porta do meu quarto enquanto eu ainda dormia, num sono quase profundo e encantador. Levemente fui sentindo a sua presença, mas não quis me mover.
Caminhou até a minha cama, e aos poucos foi me abraçando de forma peculiar, familiar, isso me fez sorrir, ainda sem abrir os olhos.
A luz do sol tocava meu corpo pelas frestas da cortina, estava me sentindo leve.
A presença dela me consumia por inteiro, queria poder tê-la todos os dias da minha vida. Aos poucos fui acordando, e senti que ela já tinha se retirado do quarto, mas pelo suave cheiro de flores que sentia, tinha certeza que ela estava por perto.
Preparei um café da manhã especial que até esqueci da dieta, era tão bom desfrutar essa energia boa que ela me causava.
E como de costume, não relutei quando ela deu indícios que passaria o dia todo ao meu lado.
Durante todo aquele dia, o calor intenso não me incomodou, o mau humor alheio não me feriu e as notícias tristes não me abalaram.
E por mais mágico que isso possa parecer, só pessoas de coração puro, de alma verdadeira, trocaram palavras, experiências e passos comigo naquele dia.
Tenho certeza, era culpa dela, ela sempre fazia isso. Sempre. Tem o magnífico dom de me mostrar os caminhos que devo seguir, em quem confiar, e que principalmente devo ouvir meu coração.
E a tarde agradável foi terminando num lindo pôr-do-sol, inesquecível. Não foi na beira da praia, não foi em um parque, foi ali sentada no sofá da minha sala olhando pela janela, sentindo sua voz meiga e fina me dizendo que sempre, sempre estará ao meu lado, e que por mais difícil que seja o obstáculo ela sempre tentará vir correndo o mais rápido possível para me abraçar, como quem abraça uma criança em prantos.
As horas passaram rápidas e o sono veio chegando lentamente, e como prometido ela me colocou para dormir, me cobriu cuidadosamente, e me deu um beijo. Disse que voltaria toda vez eu a chamasse, por mais baixinho que fosse.
Apagou a luz e saiu.
Depois desse dia, a sua presença se tornou cotidiana, bastasse que eu pronunciasse: FELICIDADE.


(escrito por Bruna Lugarinho)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma noite de primavera


Ela se encontrava ali sentada no meio da sala, junto ao um cinzeiro lotado de guimbas de cigarro, uma garrafa de vinho pela metade e um leve pilequinho que a fazia ficar com um rubro encantador na face. Era uma noite de primavera, e a brisa fresquinha invadia a sala propiciando agradáveis conversas que invadiam as horas da noite.
Era ela e ele.
Ela não acreditava na cena que via, era como se ele tivesse saído dos seus sonhos e estivesse ali, materializado, sentado no chão da sua sala, fazendo-a rir,
Mal ele sabia que o riso tão feliz que brotava no rosto dela, não era pelas histórias mirabolantes que ele contava apenas para impressionar, era simplesmente por que ela amava-o de uma forma tão infantil, tão pura que não acreditava que pudesse ser feliz com tão pouco.
Ela olhava pra ele, querendo despi-lo, não as suas roupas, mas a sua alma desvendando os seus segredos mais íntimos, seus medos e suas inseguranças.
Era como se a cada taça que esvaziasse houvesse um brinde e o pedido fosse o mesmo para todos, aquela noite não podia terminar.
Era um amor de infância, um amor infantil, um amor platônico.
Ela sempre o amou em silêncio, e ele sempre a protegeu. A tratava como uma flor delicada, daquelas que se colocam no cabelo para enfeitar, nunca percebeu que ela havia desabrochado, e como ficava majestosa quando estava ao seu lado.
Pegaram umas fotografias antigas, relembraram momentos, sentimentos, brigas,...., e até o primeiro beijo. O coração dela disparou, não só lembrou, mas como também sentiu o toque dos lábios cada vez mais perto. Ela não sabe quantos segundos ficou ali,de olhos fechados e sonhando com o beijo, mas quando abriu os olhos quase num rompante o viu parado na janela, ele olhou para o relógio, ela sentiu um aperto no peito. Escutou o barulho do molho das chaves, e sua voz grossa dizendo que já era tarde e que era melhor ele ir.
Ela quase num ímpeto levantou bruscamente do chão, pensou em segurar as suas mãos, impedi-lo de ir embora mais vez, mas a sua coragem a traiu. Ela levantou como uma boa anfitriã e respeitosamente beijou a sua face.
A porta bateu, ele se foi, mais uma vez.
Terminou a sua garrafa de vinho sozinha, fumou mais uns três cigarros e cuidadosamente guardou as fotografias.
Quem sabe um dia...

(escrito por Bruna Lugarinho)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Castelo de Areia




O dia está nublado, e Amanda acordou se sentindo um dia frio, um dia triste,...
Seus olhos não negam a expressão que esta sentindo. Medo? Insegurança? Tristeza?
Acho que um pouco de tudo. Ela sente como se as palavras que lhe foram proferidas estivessem fincadas no seu peito como estacas, e essas mesmas palavras insistindo em soltar gemidos de dor como também risinhos sarcásticos,...
Ela pára, esquece o que ia fazer, olha para o telefone, o mesmo telefone que por tantas vezes tocou para ouvir a voz de quem ela ama dizendo coisas que tornavam o seu sorriso constante na sua face. Mas ele não toca, e ela não sabe se vai tocar novamente, e se tocar? O medo faz dela um ser frágil,...
A briga da noite anterior fez ela ter lágrimas como de uma criança, que perde seu equilíbrio, cai e se machuca.
O sono não veio, a insônia duelou com as lembranças, com as fotos que refletiam no feixe de luz que teimava entrar no quarto. As lembranças pareciam tão reais, a felicidade tão evidente, o sorriso tão sincero, será que esse tempo todo ela brincou com a sua imaginação e transformou o que era superficial em essencial. A cada lágrima que descia compulsivamente fez o seu castelo de areia ser destruído,..., se tornar algo para ser pisoteado e nunca mais lembrado.
O seu amor foi posto em prova, foi sumariamente apontado em erros e defeitos. E como todas às vezes acreditou que iria chorar tanto, que nunca mais ia conseguir viver, que nunca mais ia acordar,...
Amanda acordou.
Junto ao seu amanhecer invadido de dúvidas, a fina chuva caía no dia nublado como se fossem as lágrimas que nasciam do seu rosto enquanto ela dormia. Ela se sentiu perdida.
Tentou terminar as coisas que tinham pendentes do dia anterior, mas nada, nada a fazia enxergar com veracidade o rumo que os fatos tomaram.
No meio da dor, ela suplicou por inúmeras vezes para que ele não a deixasse, mas ao passar das horas desse dia tão cinza ela percebeu que ele podia ter razão. E que os sonhos viraram areia, e tanto ele quanto ela não tem certeza se valia a pena recomeçar um outro castelo tão frágil.
A areia esta úmida, não seria melhor deixar isso pra depois.



(escrito por Bruna Lugarinho)

domingo, 11 de outubro de 2009

Da minha alma complexa


Eu canso
Eu canso da mesmice
Eu canso da rotina
Eu canso das palavras
Eu canso dos sorrisos
Eu canso das fotos já vistas
Eu canso do futuro que ainda vou viver
Eu gosto do meu mundo
Particular
Peculiar
Intenso
Nobre
Vazio
Sonhador
Eu quero começar tudo de novo
Não quero errar mais
Não quero sonhar mais
Quero viver
Projetar me cansa
Projetar me engana
Eu faço tudo pra fugir
Do que me atordoa
Do que me inebria
Eu quero dançar
Cansar
Suar
Surtar
Não quero ser fútil
Não quero ser útil
Quero ser eu
Eu
Errada
Certa
Humana
Possessiva
Saltitante
Descontrolada
Risonha
Enganada
Debochada
Feliz
Quero que a vida seja um banho de mar
Descarrego
Bronzeada
Com gosto de água de coco
E um chopp no final de tarde
Eu quero ser um pôr do sol
Lindo
Apaixonante
Aclamado
E quando eu cansar
Faço da chuva o meu choro
E tento recomeçar tudo outra vez.

(escrito por Bruna Lugarinho)




sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sumi...

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico muda quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.S umi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressada, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência."


(escrito por
Martha Medeiros)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

(...)

O telefone tocou.
Agora não tem mais jeito. A ansiedade se transformou em realidade, Martha atendeu o telefone a notícia soou como um vitória expressada em choro, gritos, socos no ar, pulos de alegria, mas pra quem estava ali dividindo a sala vendo aquela cena sentiu uma navalha cortando seus pulsos e víceras, um soco no estomago, queria vomitar o que não tinha comido, devido ao uso de inibidores de apetite que passou a usar desde que essa história começou.
Alice não podia chorar ali, ela não podia bater a porta e sair correndo e se esconder em algum cantinho, ela não podia falar tudo que pensava como uma metralhadora que mira em seu alvo, não, ela tinha que ter um sorriso no rosto e fingir, fingir que estava feliz, ela tinha que ser forte, mais forte do que tinha sido até ali.
E parece que o exército de seguidores dessa tal fulana sentiu essa energia que emanava dela e o telefone não parou de tocar. Era como se todos estivessem ali para roer o pouquinho de carne que restara do defunto.
Alice olhava para Martha como quem olha para um desconhecido, não a reconheci, não tinha sentimentos nenhum, só o de pena, o da indiferença. Afinal, ela tinha a vida toda pela frente, sonhos que nenhuma fulana mesmo com palavras de baixo escalão conseguiriam arrancar dela.
Existia uma diferença muito grande entre elas, não só a idade, mas sim o comportamento, Alice era determinada, gostava das pessoas, não se importa com a cor, com a opção sexual, com o nível econômico, ou mesmo se elas lhe trariam um benefício ou não, Alice queria fazer feliz todos ao seu redor, queria que todos se sentissem bem na presença dela, Alice queria ser amada.
Se a história de Alice não tivesse tantas feridas, diria que ela teria uma alma quase pura, quase infantil.
Já a tal fulana, não gosta de pessoas tem medo delas. É egoísta, mesquinha e principalmente rancorosa. Defende-se aos gritos e palavrões, e depois se esquiva em lágrimas, lágrimas essas que precisam de platéia, pois sozinha ela nunca chora. Eu prefiro chamar as pessoas que a cercam de seguidores, pois ela não tem amigos. Seguidores por que eles só a seguem em busca de algo em troca, parece até quem utilizam a mesma filosofia de vida, o interesse acima de qualquer coisa.
Martha durante muitos anos tentou tornar Alice uma pupila, uma discípula, mas nunca conseguiu. Alice sempre tentou entender, essa repulsa que a tal fulana tinha pela vida.
Um amor mal resolvido? Uma vida dura de ser vivida? A solidão?
Mas quem nunca teve um amor frustrado, mas quem nunca passou por uma dificuldade econômica, e a solidão apenas penso que seja reflexo de tudo que ela plantou ate hoje.
Ela se castiga ate hoje por não ter, com todas as suas artimanhas, detido o amor da sua vida, impedi-lo de ter ido embora. E toda essa frustração ela jogou na pequena Alice
Será que ela achou que a pequena Alice era capaz de transformar o mundo que ela tinha destruído? E a cada passo de destruição que ela causava a pequena Alice tinha que confortá-la?
Não sei como, nem sei por que, mas Alice permaneceu com seus valores. Tentou ganhar o mundo, mas não era tão ambiciosa quanto Martha.
Alice enxergava Martha como uma muralha de ferro, onipotente, pragmática, dura e severa. E aos poucos a razão, conceitos e valores de Alice foram destruindo essa muralha que ela enxergava no seu subconsciente e a transformou em uma flor seca com espinhos, quase um cacto.
E aos poucos essa historia foi tomando um rumo diferente, Alice cresceu e resolver independente de que Martha pensasse, fizesse, opinasse, ela seria ela mesma, defenderia com unhas e dentes seus sonhos e principalmente seu caráter. E Martha dizia quase que como uma mantra que ela nunca seria capaz de nada, que ela nunca seria feliz, que as pessoas nunca gostariam dela.
Suas palavras atingiam Alice como facadas, flechas e lanças. E aos poucos ela foi construindo um escudo, que hoje ela consegue se defender sem precisar sofrer tanto.
As cicatrizes causadas em Alice estão abertas, algumas sangram até hoje, Alice chora, Alice sofre, mas ela não sabe se sofre pelas palavras proferidas ou por pena do monstro que Martha se tornou. Ou se chora pelo futuro que ela não poderá compartilhar.
Seus seguidores obtêm lucros, vantagens dessa guerra que ela travou com Alice, por isso talvez o motivo se serem tão fiéis. Compraram a briga e como forma de agradecimento recebem o que querem, pedem o que querem e Martha sem muito pensar em valores monetários, ou por já não existir bom senso, ela entrega tudo como forma de agradecimento.
Seus seguidores são malandros, são sagazes, e sabem trapacear e enrolar Martha direitinho.
É uma pena.
Pois parece que o objetivo de vida de Matha, talvez por falta de ambições boas, se transformou numa guerra, num duelo armado contra Alice.
É complexo, é doloroso, é inútil tentar entender aonde, por que e como essa guerra começou. Às vezes penso que nem décadas de análise conseguiriam resolver essa questão, essas cicatrizes, esses medos, esses traumas.
Ainda mais quando se trata de mãe e filha.


(escrito por Bruna Lugarinho)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sorria!


Existem dias e dias, dias que você acorda feliz com a musiquinha que sai do despertador e sorri, e ainda deitada, esparramada, pensa em questões de rápidos minutos o que você tem que ser feito naquele dia, tudo é feito com calma, abre a janela, sente o cheiro da brisa, toma o banho mais demorado, escolhe a roupa em questões de segundos, toma café e sai de casa.
O bom dia pro porteiro, padeiro, pro jornaleiro, é mais feliz, mais sorridente, por que você acordou assim? Nem você sabe.
E do outro lado da rua existe alguém que fez tudo ao contrário de você até agora, quase quebrou o despertador, esbravejou com raiva todas as tarefas do dia, tomou aquele banho rápido, reclamou da demora do elevador, do café que estava frio, do jornal que não tinha notícia interessante.
O que você tem em comum com essa pessoa?
Vocês acabaram de esbarrar um no outro, e essa pessoa simplesmente esbravejou, xingou, e principalmente te irritou!
Ele acabou de te contaminar, não pelo espirro, nada bacteriano, mas pelo mau humor.
Pronto, você esquece todos os sorrisos, a musiquinha que antes cantava na sua cabeça e a fazia sorrir agora se transforma em pura irritação, e sabem quantas pessoas você vai contaminar? Todas que você encontrar pela frente,...
O mau humor é assim, ele propaga no ar e nós nos deixamos levar.
Quando isso acontecer com você, respira fundo, lembra de uma cena que vá te fazer sorrir, peça desculpas a quem lhe esbarrou, lembre-se que nada é maior que a paz que está com você.
Se você sorrir mais durante o dia, é capaz de ajudar aquela pessoa que só precisa de um sorriso pra se libertar da desconfortável sensação do mau humor.
Você já parou pra lembrar que por mais irritada que você esteja ao ver alguém dando uma gargalhada intensa, ou uma criança sorrindo você automaticamente sorri também.
Sorria, isso é terapia, e é grátis!


(escrito por Bruna Lugarinho)

A metade que me faz completa



Não sei aonde foi.
Não sei foi nas madrugadas, não sei se foi nos bares, não sei se foi nos brindes, não sei se foi nas festas, não sei se foi nos encontros casuais, não sei se foi quando me encontrava cansada jogada em cima da cama sem planos.
Não se foi na calmaria da praia, numa livraria, numa fila do cinema, num almoço de família, ou no cantar dos pássaros em Ilha Grande.
Mas eu pedi.
Pedi que encontrasse você logo, para que você transformasse o meu mundo desregrado em abraços, filmes e pipoca em pleno sábado à noite...
Que fosse maduro, adulto, mas que também tivesse um pouco da minha insanidade, da minha alma infantil...
Que fosse a dose certa do meu exagero, que tivesse a mão que não me deixa sentir medo, que segura firme, e também a mesma mão para duelar uma guerra de travesseiros.
Que precisasse de mim, que fosse um pouco dependente, só um pouco, que me amasse loucamente.
Que me aturasse na tpm, que entendesse os meus medos, e que me enchesse de beijinhos ao tentar me acordar de um pesadelo.
Que aturasse os meus porres e achasse graça das minhas teorias.
Que me incentivasse e guardasse os meus segredos á sete chaves.
Que acima de qualquer coisa fosse o meu amigo, o meu melhor amigo.
Não me importa o dia, não me importa como, na verdade pouco me importo,..., eu conheci você!
E aos poucos, eu fui me apaixonando.
O primeiro beijo, foi estranho, eu senti algo que nunca tinha sentido antes. Senti que algo tinha acontecido, poeticamente diria que nossas almas se encontraram. Foi o melhor beijo da minha vida, meus pés saíram do chão, meu corpo se tornou leve como uma pluma e ao acordar desse sonho, olhei para você e o amor nasceu ali olhando para o seu sorriso, uma energia boa me invadiu e habita em mim até hoje.
Sim, eu te amo.
E aos poucos você foi se tornando essencial, os seus defeitos, as suas virtudes, as suas manias, a sua preguiça,...., Nos tornamos cúmplices.
Cúmplice dos dois reais, cúmplices pelas saídas á francesa, cúmplices,...
Acima do amor verdadeiro que temos existe uma amizade linda.
Existe vontade, existe querer.
Não sei bem como chegamos até aqui, não sei nem por que chegamos ate aqui, foram tantos obstáculos, tantas conversas, tantas brigas, que muitos desistiram de nós antes mesmo de definirmos o nosso fim.
O mais importante é que nós não desistimos um do outro, nunca. Até hoje não deixamos de nos falar nenhum dia, e por mais brigados que estivéssemos sempre havia a preocupação, o boa noite antes de dormir.
E nossas brigas hoje são frivolidades inúteis, hoje temos calma, hoje temos certeza do nosso amor, hoje temos planos,...
E hoje pensando em nós, tenho real certeza de que o meu pedido foi aceito.
Encontrei você.
Hoje eu tenho você na minha vida, hoje eu sei sorrir com a alma, hoje eu tenho alguém que me completa.






(escrito por Bruna Lugarinho)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O amor está em conexão lenta,...


Eu sempre espero demais das pessoas.
Sempre acho que elas vão me dar o sorriso quando eu preciso, que vão me retornar a ligação na hora, que vão me incluir nos planos de um futuro, que vão me doar cinco minutinhos do seu tempo, ou vão retribuir todo o carinho na mesma proporção. Ledo engano.
Vivemos num mundo egoísta, num mundo onde só é feito o que dá ibope, não temos tempo mais para nada, descontamos a falta de tempo no trabalho, no cansaço, no estresse. Por que não queremos assumir que somos pessoas formatadas por uma mídia, que nos tornamos preguiçosas diante de uma televisão ou mesmo de um qualquer eletrônico, o afeto, ah o afeto, esse não tem fio, não tem conexão usb, esse não dá pra compartilhar on line com sua lista de amigos, então é melhor deixar pra lá!
Falamos com pessoas populares, matamos as saudades pelo MSN, Orkut. Isso é possível!?
Quanto maior o seu número de amigos melhor, mesmo que você depois nem se lembre por que adicionou, mas além disso você precisa dos seus seguidores, pra ser popular tem que ter seguidores no Twitter.
Andar até a casa do amigo, ou pegar trânsito é démodé. O interessante é falar pela web cam
E quanto mais preguiçosas as pessoas ficarem diante de tanta tecnologia, menos amor vai haver no mundo, sim por que você não vai amar o seu amigo e sim o seu laptop de última geração. Mas você pode pensar que mandar um “eu te amo”pelo orkut ou facebook irá resolver, será que resolve a longo prazo, ou será que você descobre antes que na sua amizade “ocorreu um erro inesperado, tente mais tarde”.
Eu preferia a época em se namorava de verdade, que se tinha amigos de verdade, que as pessoas passavam horas escrevendo cartas, e não tinham apenas o espaço de 1024 caracteres para demonstrar o seu amor.
Enfim,...a era tecnológica me permite sentar em frente a essa tela, criar um blog, e dizer que sou de verdade, que tenho sentimentos, não tem muitos amigos no orkut, muitos seguidores no Twitter, mas amo todos os meus amigos independente de quanto amigos eles tenham, e que não permito essa preguiça demasiada me contamine.
Eu tenho tempo para tudo o que eu quero fazer, basta saber o que eu quero fazer de verdade.


(escrito por Bruna Lugarinho)

Só eu posso me fazer feliz,...

Tem dias que preciso ver o mar, tem dias eu preciso escutar a minha música preferida, tem dias que eu preciso ir na gaveta das fotos e rever uma por uma, tem dias que eu queria me afogar numa piscina de chocolate, tem dias que eu prefiro a chuva, tem dias que prefiro navegar na Internet do que ver filmes,..., tem dias que prefiro não existir.
Minha alma precisa de cores, sorrisos, melodias, paz, minha alma é infantil, minha alma é quase pura, minha alma é quase malvada.
Eu amo sorrisos, eu amo abraços, eu amo ver que aquela pessoa querida lembrou de você, eu adoro comentários nas fotos, no blog, por torpedo. Eu adoro reunir os amigos e falar besteiras, lembrar do tempo que passou e ficou na lembrança. Eu adoro coincidências, eu adoro multiplicar amigos, eu adoro fazer com as pessoas se sintam bem em minha companhia. Não gosto de esbravejar problemas, eles são meus, para as pessoas próximas talvez, aprendi com a vida que ser pessimista, negativa, traz uma energia ruim, e que viver cercada de cores, sorrisos e gente feliz é bem mais divertido. Não gosto de pessoas mentirosas, também não gosto de pessoas que precisam se auto afirmar e fazem tudo para serem aceitos, como se fossem marionetes. Esta a fim de gritar? Grita! Esta a fim de correr? Corre! Eu odeio a sensação de estar acorrentada e sorrindo ao mesmo tempo. O importante é ao terminar do dia você ter a certeza de que você foi você mesmo, e não um personagem. Eu prefiro viver feliz e com poucos amigos do que viver infeliz cercada de falsos amigos.
Eu preciso ser feliz, eu tenho essa obrigação comigo mesma, não vou mais permitir que pessoas me invadam e me digam como fazer e o que fazer para ser aceita. Nem vou sofrer se a calça jeans preferida já não entra mais, eu preciso olhar para frente.
Eu preciso de calma, eu preciso de tempo, eu preciso de uma grama para sentar, eu preciso de um sol para me dar energias, e aos poucos, talvez bem aos pouquinhos eu vou tentando me encontrar. Afinal, hoje eu tenho certeza de que a felicidade que eu preciso não está nos outros está em mim, no meu auto-conhecimento. Na certeza, única e exclusiva de que só eu sou capaz de me fazer feliz.



(escrito por Bruna Lugarinho)




quinta-feira, 9 de julho de 2009

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"Eu sou mais forte do que eu."

Clarice Lispector

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Guerreiros de Jorge

Outro dia estava voltando de carona no carro de um amigo e o som era muito bom, e perguntei quem estava cantando, ele me disse que era a banda Guerreiros de Jorge.
Assim que tive oportunidade baixei no E-Mule,..., me apaxonei!
Vale a pena conferir, o refrão não sai mais da minha cabeça.
Bjx





Dama de Vermelho


Ela aparentava ter uns 35 anos, era loira, porém suas raízes mostravam que era artificial, assim como tudo naquela mulher.
Ela não tinha um nome, ela tinha vários. Seu corpo não era escultural, mas como dizem por aí também não era de se jogar fora. Ela vestia um vestido fente única de veludo vermelho que deixavam seus peitos quase à mostra, transparecendo toda a vulgaridade daquela mulher. Seus cabelos estavam desgrenhados, sua maquiagem borrada, ela era conhecida como A Dama de Vermelho da Lapa, mas alguns diziam que seu nome era Vanuza
Ela perambulava de bar em bar, todos os dias como uma tradição, tinha um sorriso sarcástico em seu rosto. Mas ela tinha um bar preferido, o Faisão Azul:
- Juvenal, serve aquela pinga gostosa que só você sabe me servir.
- É pra já!
(ela bebe a pinga, sem careta e sem cara feia)
- Movimento ta fraco hoje né?
- Ta chovendo, aí complica.
- Nem tinha reparado. Deve ser por que nem as gotas de chuva me incomodam mais.
- Bom, ta aqui o seu dinheiro Juvenal. Até amanhã.
Vanuza sai do Faisão Azul e vai até a Joaquim Silva como faz todos os dias, rebola, sorri e acena aos conhecidos. De repente sente uma mão forte e pesada lhe segurar o braço:
- Aonde pensas que vai madame?
- E desde quando lhe devo satisfações?
- Você vai ser minha hoje.
- Aprende uma coisa. Eu não sou de ninguém.
Ela desvencilha o braço da mão pegajosa daquele homem que ela não lembrava nem mesmo o nome, e de bar em bar, acenos, risadas ao pé do ouvido, ela se despede da Lapa como todos os dias.
Ela espera seu ônibus no ponto, olha o relógio e esbraveja sozinha. Seus ônibus só irá passar daqui há 35 minutos. Acende um cigarro, acende outro e outro,..., Um homem com cara de cansado e uma mala na mão pára o seu lado e pergunta se a linha 337 para naquele ponto de ônibus. Ela responde com um sorriso e diz que sim, desvia seu olhar pra mala e sem nenhum sinal de constrangimento pergunta:
- Vai viajar, ou foi expulso de casa?
- Eu era zelador de uma boate que foi vendida. Hoje foi o último dia. O pior é que eu morava lá
- E você ta indo pra aonde?
- Ainda não sei, acho que pra casa do meu irmão. Mas minha cunhada não gosta muito de mim, então sabe como é,...
(ele abaixa a cabeça)
- Se quiser pode ir pra minha casa.
- Desculpa senhora. Agradeço o convite, mas,...
- Ô de deus, se você não tem pra onde ir, vai pra lá. Amanhã você toma teu rumo.
- Agradeço senhora,...
O ônibus chega, ela e o homem que nem ela sabe o nome sentam no ônibus. Vanuza sem nenhuma classe tira os sapatos que estão matando seus pés e começa a massageá-los.
O homem pensa que tipo de mulher é ela, não é feia, mas também não é bonita, mas não é de família, por que moça de família não fica ás 4 da manhã parada num ponto de ônibus sozinha em plena Lapa vestida daquele jeito. Enfim,..., é uma moça de bom coração, lhe cedeu a casa dela. Não se sentia no direito de fazer juízo de valor daquela senhora.
Ela pediu pro motorista parar no próximo ponto. Eles desceram, e caminharam por uns 10 minutos na fria madrugada. Sua casa era numa ladeira íngrime, ela tirou os sapatos e subiu descalça mesmo. Abriu a porta, e ele pode sentir o cheiro de mofo misturado com perfume vagabundo que vinha daquele lugar, ela tinha uma gata cinza que ela carinhosamente pegou no colo. Era uma casa de um cômodo só, mas era tudo muito bagunçado.
- Onde posso colocar a minha mala?
- Em qualquer lugar.
- Vou fazer um cafezinho, você quer?
- Aceito sim. E a senhora fica despreocupada que assim que amanhecer eu vou tomar meu rumo.
- Fique tranqüilo, fique o tempo que precisar.
- Posso usar o banheiro?
- Claro.
O banheiro era fétido. Ele teve vontade de sair correndo dali. Ele se dirigiu a ela e perguntou:
- Você mora sozinha?
- Eu sou sozinha.
(ela levanta subitamente se dirige para o centro do cômodo, como quem se sente incomodado pela pergunta)
- Vou fazer uma cama ali no chão pra você. Você pode até tomar banho, mas aqui não tenho água quente, e essa hora da madrugada a água vira gelo
- Não precisa se incomodar.
Ela começa a fazer a cama, os lençóis fedem a mofo puro e a almofada esta cheia de pêlos da gata de estimação.
- Não perguntei seu nome. Qual seu nome?
- Francisco.
- Hum,..Deita Francisco. Descansa um pouco.
Francisco para não fazer desfeita, deita. Por varias vezes engole a ânsia de vômito que toma conta do seu ser. Vanuza vai ate o banheiro troca de roupa e coloca uma camisola velha e se deita também.
O dia amanhece e Francisco levanta. Vanuza já esta acordada fumando na janela.
- Bom dia Francisco. Dormiu bem?
- Dormi sim Sra. Muito obrigada por tudo.
- Toma um golinho de café, está fresquinho.
- Obrigado.
Ele termina o café, pega a sua mala, agradece a hospitalidade e a porta se fecha.
Vanuza fica ali sentada, pensando.
Francisco desde a ladeira pensando.
Ele não para de pensar, de tentar entender aquela mulher, ela parece mulher da vida mas não é! Que ela deve ter um passado sofrido, e que no fundo ela só deseja ser amada.
Ela fica imersa em seus pensamentos, e pensa que de tão doída pela vida, homens pra ela são válvula de escape, seja pra caridade ou pra pagar uma pinga para aquele que implora pela saidera.
Ela se esconde na Dama de Vermelho, uma personagem fictícia que ela criou para esconder a alma que sangra todos os dias de um amor mal resolvido.


(escrita por Bruna Lugarinho)


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Espelho



Renata hoje se olhou no espelho. Não que ela não se olhe no espelho, mas hoje ela viu o que ela evitava ver.
Ela viu as cicatrizes que o seu rosto esconde, aquelas que não aparecem sobre a pele, mas aquelas que só ela mesmo pode sentir ao toque dos dedos..
Ela tinha sonhos, hoje ela tem desilusões. Ela tinha uma família hoje ela tem parentes.
Ela tinha projetos, hoje ela tem lembranças. Ela sorria com o olhar e com a alma, hoje ela sorri com os lábios mais por educação do que qualquer outra coisa. Ela comia sem transtornos alimentares, hoje ela toma remédios para emagrecer. Ela bebia socialmente, hoje ela bebe pra esquecer. Ela se relacionava bem com as pessoas, hoje ela apenas cumprimenta-as. Ela acreditava que todos que estivessem por perto diariamente eram seus melhores amigos, hoje ela tem dúvidas em afirmar quem são. Ela acreditava no amor, hoje ela acredito na banalização dele. Ela não tinha medo de raios e trovões, hoje ela não suporta ouvir os estrondos, lhe causam aflição. Ela deitava e dormia noite inteira, hoje ela tem insônia. Ela não conhecia a palavra solidão, hoje ela a acompanha. Ela tinha a coluna reta e longínqua, hoje parece que a cabeça quer encontrar o chão. Ela adorava seus cabelos, hoje eles vivem presos num coque mal feito. Ela tinha adoração pelo sol, hoje ela quer se esconder dele.
Ela ficou horas se olhando no espelho, até as pernas ficarem cansadas, até o telefone despertar o transe em que ela havia entrado.
Ela olhou o nome no identificador de chamadas e jogou-o em cima da cama.
As pessoas irritam Renata ultimamente.


(escrito por Bruna Lugarinho)

terça-feira, 7 de julho de 2009

O quarto



Suzana está entre caixas, roupas para doações, papéis rasgados, bilhetes, cartas, postais, ela está colocando tudo em envelopes e caixas distintas! Toda mudança causa uma certa bagunça, é a busca pelo novo, mas pra ela está sendo traumático.
Venderam, venderam a casinha dela, venderam tudo, quer dizer, tudo não! Os móveis, objetos pessoais,..., Poderão ser levados, mas o tudo o que eu digo é o seu passado, as lembranças, a infância, como se isso tivesse valor monetário e estivesse embutido nos zeros do bendito contrato.
Afinal, era nesse quarto que ela batia a porta quando ouvia um não, quando queria chorar pelo menino bonitinho do escola, quando queria apenas estudar, quando reunia as amigas para um tarde gostosa regada a pipoca e filmes no estilo sessão da tarde. Era nesse quarto que ela brincava sozinha de Barbie, ou mesmo depois de uma viagem era aquele quarto que ela aguardava ansiosamente rever, era seu mundo e ponto final.
Agora é um cômodo, como assim um cômodo, ela não se conforma, ela chora, grita com a cabeça enfiada dentro do travesseiro como se fosse aquela criança que chorava quando seu pai dizia que não poderia vê-la no dia combinado.
Um filme passa pela cabeça de Suzana, ela sorri e pensa como nenhum amor que ela viveu e acabou, causou esse buraco que um “cômodo” está causando nela!
Desculpas, não é um cômodo apenas, é o mundo de Suzana.
A nova casa sim,..., será um lugar cheio de cômodos, cômodos e cômodos. Ela não terá mais tempo pra construir uma história bonita nesse cômodo novo que com muita tristeza ela vai tentar chamar de quarto. Ela anseia outros objetivos, ela também não terá tempo para curtir esse “quarto” novo, ela passa o dia inteiro fora divida entre os livros e o trabalho, ela não é mais uma menininha. Ela quer casar, e se ela casar? Será o “cômodo” mais rápido de sua vida, o “cômodo” estranho será estranho para sempre.
O tempo está passando, e parece que o a cada minuto o “cômodo amado” quer que ela fique, que ela não o deixe,..., ela sente quase que como uma promessa que ele nunca esquecerá dela. É um pacto, pacto secreto, só entre eles.
Suzana tenta abraçar o cômodo, como quem abraça um amigo que deixará saudades.



(escrito por Bruna Lugarinho)

A hora da partida.


- Que mala é essa?
- To indo embora.
- Pra onde?
- Na rodoviária eu decido.
- Como assim? Você ficou louca?
- Mais ou menos.
- E seus amigos, sua faculdade,...?
- Vão ficar aqui.
- Você decidiu isso quando?
- Há três meses.
- E por que não falou nada?
(silêncio)
- Me diz por que você planejou tudo e não me falou nada!!!
- Eu não planejei nada.
- Como não, você esta com uma mala, dizendo que vai embora, e me disse que esta -planejando isso há três meses!
- Eu decidi há três meses, mas não planejo há três meses.
- Não entendo a diferença entre planejar e decidir.
- Eu só vim me despedir.
- Mas você não pode. Eu sou sua mãe e não vou permitir.
- Você que me mandou embora.
- Eu? Você está louca! Você só pode estar brincando.
- Todas as vezes que arranhou a minha alma com sua palavras que me soavam como uma navalha na pele.
- Você esta exagerando
- O mesmo exagero que você cometeu me aprisionando nos seus preconceitos e no seu medo de viver, de enxergar cores, eu nasci e nunca vivi!
- Você esta me magoando falando desse jeito.
( porta batendo)


Na rodoviária Vivian sente medo e euforia, e tenta enxergar em cada pessoa sentada naquele terminal o por que de estar ali. Visitar parentes, ir ao encontro de um grande amor, viajando a trabalho, doença de algum ente querido,....Ela esta ali por apenas um motivo, ela quer ser feliz!
Olha rapidamente o orelhão e desvia o seu olhar. Seu ônibus encosta. Ela entra, senta e sorri. E ao ligar do motor do ônibus ela se benze.



(escrito por BRUNA LUGARINHO)



segunda-feira, 6 de julho de 2009

A rotina existe?


Por muitas vezes já ouvi inúmeras pessoas dizendo a mesma frase: No início são tudo flores!! Realmente, no início nenhum defeito incomoda,..., nem aquele que aos olhos das outras pessoas parece ser bem irritante, ou aquele bem pequenininho!
Mas se pararmos pra pensar, existe coisa mais difícil do que conviver com um outro ser, que você nunca viu na vida, que de repente parece que você conhece há anos!? Olhos de apaixonados brilham tanto que causam até cegueira, acho que deve ser por isso!
Mas o tempo passa, a convivência diária muda a rotina, muda até a forma de pensar de uma vida inteira, as coisas que mais gostamos de fazer, antes sozinhos, ficam bem melhores com a companhia do outro,..., a individualidade se perde?? Ou tudo se torna mais atraente?? Os amigos, por mais que existam aqueles que batam o pé dizendo que não largam a amizade por um amor, até eles se afastam, a atmosfera é outra! E curtir a dois, é muito, mais muito gostoso!! Você não quer mais compartilhar com várias pessoas, você começa a querer compartilhar tudo com aquela pessoa, é como se a música só tocasse para vocês dois, mesmo com um milhão de pessoas em volta!
E o tempo vai passando,...A paixão se torna amor, o amor se torna ameno, mais compreensível, e quando você tem certeza de que é amor, pronto, você vai voltando a sua vidinha normal,.., a euforia se torna estabilidade, a saudade não é mais tão dolorida, ela é um mix de consciência e prazer! Que por muitas vezes é confundida com a malvada “rotina”!!
Mas o que seria a rotina? Seria ela ruim? Seria ela boa? Ruim, talvez pelo fato de as purpurinas, as borboletas terem saído de cena, e dado lugar a mesmice, ou chamaríamos de estabilidade? Boa, pelo fato de você ter uma rotina com que você ama, aquela rotina boa, sabe?!
Mas ninguém encara a rotina como uma coisa boa, e sim como uma vilã!
Mas existe amor com rotina!? Ou existe paixão sem rotina!?
Amar é melhor do que viver apaixonado?
Dá pra viver apaixonada depois de anos!? Mas eu to falando da paixão dos primeiros meses, a paixão, em que os defeitos não são conhecidos...aquela paixão ofegante!!
Ou viver o amor estável é mais confortável!??!


(escrito por BRUNA LUGARINHO)

Eu preciso...


Eu preciso me encontrar, eu preciso de flores, eu preciso de um cheiro, eu preciso de uma canção, eu preciso de uma fotografia, eu preciso eu preciso de um All Star jogado no meio do quarto, eu preciso de um papel e uma caneta.

No meu papel eu crio a ilusão, a forma, a verdade, a mentira, a história, a poesia, e quando alguém estiver lendo ninguém nunca vai saber se eu chorei ou tive aquele sorriso gostoso no canto da boca como meu companheiro. As idéias são minhas, os sonhos, as derrotas, eu conto o que eu quero, o que eu me permito, nada mais, é o meu mundo, usando as minhas palavras, os meus pensamentos, eu me liberto. Eu sinto o vento mesmo que as janelas estejam fechadas, nesse momento eu sou livre!

Eu preciso de papel, não suporto nesse momento tão íntimo comigo mesma aquelas insuportáveis janelas piscando, no papel ninguém me rouba de mim mesma, e quando eu venho escrever aqui eu não me permito mudar nada, afinal não nos encontramos duas vezes, nosso entendimentos são prolixos, e por que mudar a essência??

Eu preciso de um copo de água,..., eu preiso escrever, eu preciso me libertar, eu preciso me encontrar...

Permita-me.



(escrito por BRUNA LUGARINHO)