quinta-feira, 16 de julho de 2009

(...)

O telefone tocou.
Agora não tem mais jeito. A ansiedade se transformou em realidade, Martha atendeu o telefone a notícia soou como um vitória expressada em choro, gritos, socos no ar, pulos de alegria, mas pra quem estava ali dividindo a sala vendo aquela cena sentiu uma navalha cortando seus pulsos e víceras, um soco no estomago, queria vomitar o que não tinha comido, devido ao uso de inibidores de apetite que passou a usar desde que essa história começou.
Alice não podia chorar ali, ela não podia bater a porta e sair correndo e se esconder em algum cantinho, ela não podia falar tudo que pensava como uma metralhadora que mira em seu alvo, não, ela tinha que ter um sorriso no rosto e fingir, fingir que estava feliz, ela tinha que ser forte, mais forte do que tinha sido até ali.
E parece que o exército de seguidores dessa tal fulana sentiu essa energia que emanava dela e o telefone não parou de tocar. Era como se todos estivessem ali para roer o pouquinho de carne que restara do defunto.
Alice olhava para Martha como quem olha para um desconhecido, não a reconheci, não tinha sentimentos nenhum, só o de pena, o da indiferença. Afinal, ela tinha a vida toda pela frente, sonhos que nenhuma fulana mesmo com palavras de baixo escalão conseguiriam arrancar dela.
Existia uma diferença muito grande entre elas, não só a idade, mas sim o comportamento, Alice era determinada, gostava das pessoas, não se importa com a cor, com a opção sexual, com o nível econômico, ou mesmo se elas lhe trariam um benefício ou não, Alice queria fazer feliz todos ao seu redor, queria que todos se sentissem bem na presença dela, Alice queria ser amada.
Se a história de Alice não tivesse tantas feridas, diria que ela teria uma alma quase pura, quase infantil.
Já a tal fulana, não gosta de pessoas tem medo delas. É egoísta, mesquinha e principalmente rancorosa. Defende-se aos gritos e palavrões, e depois se esquiva em lágrimas, lágrimas essas que precisam de platéia, pois sozinha ela nunca chora. Eu prefiro chamar as pessoas que a cercam de seguidores, pois ela não tem amigos. Seguidores por que eles só a seguem em busca de algo em troca, parece até quem utilizam a mesma filosofia de vida, o interesse acima de qualquer coisa.
Martha durante muitos anos tentou tornar Alice uma pupila, uma discípula, mas nunca conseguiu. Alice sempre tentou entender, essa repulsa que a tal fulana tinha pela vida.
Um amor mal resolvido? Uma vida dura de ser vivida? A solidão?
Mas quem nunca teve um amor frustrado, mas quem nunca passou por uma dificuldade econômica, e a solidão apenas penso que seja reflexo de tudo que ela plantou ate hoje.
Ela se castiga ate hoje por não ter, com todas as suas artimanhas, detido o amor da sua vida, impedi-lo de ter ido embora. E toda essa frustração ela jogou na pequena Alice
Será que ela achou que a pequena Alice era capaz de transformar o mundo que ela tinha destruído? E a cada passo de destruição que ela causava a pequena Alice tinha que confortá-la?
Não sei como, nem sei por que, mas Alice permaneceu com seus valores. Tentou ganhar o mundo, mas não era tão ambiciosa quanto Martha.
Alice enxergava Martha como uma muralha de ferro, onipotente, pragmática, dura e severa. E aos poucos a razão, conceitos e valores de Alice foram destruindo essa muralha que ela enxergava no seu subconsciente e a transformou em uma flor seca com espinhos, quase um cacto.
E aos poucos essa historia foi tomando um rumo diferente, Alice cresceu e resolver independente de que Martha pensasse, fizesse, opinasse, ela seria ela mesma, defenderia com unhas e dentes seus sonhos e principalmente seu caráter. E Martha dizia quase que como uma mantra que ela nunca seria capaz de nada, que ela nunca seria feliz, que as pessoas nunca gostariam dela.
Suas palavras atingiam Alice como facadas, flechas e lanças. E aos poucos ela foi construindo um escudo, que hoje ela consegue se defender sem precisar sofrer tanto.
As cicatrizes causadas em Alice estão abertas, algumas sangram até hoje, Alice chora, Alice sofre, mas ela não sabe se sofre pelas palavras proferidas ou por pena do monstro que Martha se tornou. Ou se chora pelo futuro que ela não poderá compartilhar.
Seus seguidores obtêm lucros, vantagens dessa guerra que ela travou com Alice, por isso talvez o motivo se serem tão fiéis. Compraram a briga e como forma de agradecimento recebem o que querem, pedem o que querem e Martha sem muito pensar em valores monetários, ou por já não existir bom senso, ela entrega tudo como forma de agradecimento.
Seus seguidores são malandros, são sagazes, e sabem trapacear e enrolar Martha direitinho.
É uma pena.
Pois parece que o objetivo de vida de Matha, talvez por falta de ambições boas, se transformou numa guerra, num duelo armado contra Alice.
É complexo, é doloroso, é inútil tentar entender aonde, por que e como essa guerra começou. Às vezes penso que nem décadas de análise conseguiriam resolver essa questão, essas cicatrizes, esses medos, esses traumas.
Ainda mais quando se trata de mãe e filha.


(escrito por Bruna Lugarinho)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sorria!


Existem dias e dias, dias que você acorda feliz com a musiquinha que sai do despertador e sorri, e ainda deitada, esparramada, pensa em questões de rápidos minutos o que você tem que ser feito naquele dia, tudo é feito com calma, abre a janela, sente o cheiro da brisa, toma o banho mais demorado, escolhe a roupa em questões de segundos, toma café e sai de casa.
O bom dia pro porteiro, padeiro, pro jornaleiro, é mais feliz, mais sorridente, por que você acordou assim? Nem você sabe.
E do outro lado da rua existe alguém que fez tudo ao contrário de você até agora, quase quebrou o despertador, esbravejou com raiva todas as tarefas do dia, tomou aquele banho rápido, reclamou da demora do elevador, do café que estava frio, do jornal que não tinha notícia interessante.
O que você tem em comum com essa pessoa?
Vocês acabaram de esbarrar um no outro, e essa pessoa simplesmente esbravejou, xingou, e principalmente te irritou!
Ele acabou de te contaminar, não pelo espirro, nada bacteriano, mas pelo mau humor.
Pronto, você esquece todos os sorrisos, a musiquinha que antes cantava na sua cabeça e a fazia sorrir agora se transforma em pura irritação, e sabem quantas pessoas você vai contaminar? Todas que você encontrar pela frente,...
O mau humor é assim, ele propaga no ar e nós nos deixamos levar.
Quando isso acontecer com você, respira fundo, lembra de uma cena que vá te fazer sorrir, peça desculpas a quem lhe esbarrou, lembre-se que nada é maior que a paz que está com você.
Se você sorrir mais durante o dia, é capaz de ajudar aquela pessoa que só precisa de um sorriso pra se libertar da desconfortável sensação do mau humor.
Você já parou pra lembrar que por mais irritada que você esteja ao ver alguém dando uma gargalhada intensa, ou uma criança sorrindo você automaticamente sorri também.
Sorria, isso é terapia, e é grátis!


(escrito por Bruna Lugarinho)

A metade que me faz completa



Não sei aonde foi.
Não sei foi nas madrugadas, não sei se foi nos bares, não sei se foi nos brindes, não sei se foi nas festas, não sei se foi nos encontros casuais, não sei se foi quando me encontrava cansada jogada em cima da cama sem planos.
Não se foi na calmaria da praia, numa livraria, numa fila do cinema, num almoço de família, ou no cantar dos pássaros em Ilha Grande.
Mas eu pedi.
Pedi que encontrasse você logo, para que você transformasse o meu mundo desregrado em abraços, filmes e pipoca em pleno sábado à noite...
Que fosse maduro, adulto, mas que também tivesse um pouco da minha insanidade, da minha alma infantil...
Que fosse a dose certa do meu exagero, que tivesse a mão que não me deixa sentir medo, que segura firme, e também a mesma mão para duelar uma guerra de travesseiros.
Que precisasse de mim, que fosse um pouco dependente, só um pouco, que me amasse loucamente.
Que me aturasse na tpm, que entendesse os meus medos, e que me enchesse de beijinhos ao tentar me acordar de um pesadelo.
Que aturasse os meus porres e achasse graça das minhas teorias.
Que me incentivasse e guardasse os meus segredos á sete chaves.
Que acima de qualquer coisa fosse o meu amigo, o meu melhor amigo.
Não me importa o dia, não me importa como, na verdade pouco me importo,..., eu conheci você!
E aos poucos, eu fui me apaixonando.
O primeiro beijo, foi estranho, eu senti algo que nunca tinha sentido antes. Senti que algo tinha acontecido, poeticamente diria que nossas almas se encontraram. Foi o melhor beijo da minha vida, meus pés saíram do chão, meu corpo se tornou leve como uma pluma e ao acordar desse sonho, olhei para você e o amor nasceu ali olhando para o seu sorriso, uma energia boa me invadiu e habita em mim até hoje.
Sim, eu te amo.
E aos poucos você foi se tornando essencial, os seus defeitos, as suas virtudes, as suas manias, a sua preguiça,...., Nos tornamos cúmplices.
Cúmplice dos dois reais, cúmplices pelas saídas á francesa, cúmplices,...
Acima do amor verdadeiro que temos existe uma amizade linda.
Existe vontade, existe querer.
Não sei bem como chegamos até aqui, não sei nem por que chegamos ate aqui, foram tantos obstáculos, tantas conversas, tantas brigas, que muitos desistiram de nós antes mesmo de definirmos o nosso fim.
O mais importante é que nós não desistimos um do outro, nunca. Até hoje não deixamos de nos falar nenhum dia, e por mais brigados que estivéssemos sempre havia a preocupação, o boa noite antes de dormir.
E nossas brigas hoje são frivolidades inúteis, hoje temos calma, hoje temos certeza do nosso amor, hoje temos planos,...
E hoje pensando em nós, tenho real certeza de que o meu pedido foi aceito.
Encontrei você.
Hoje eu tenho você na minha vida, hoje eu sei sorrir com a alma, hoje eu tenho alguém que me completa.






(escrito por Bruna Lugarinho)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O amor está em conexão lenta,...


Eu sempre espero demais das pessoas.
Sempre acho que elas vão me dar o sorriso quando eu preciso, que vão me retornar a ligação na hora, que vão me incluir nos planos de um futuro, que vão me doar cinco minutinhos do seu tempo, ou vão retribuir todo o carinho na mesma proporção. Ledo engano.
Vivemos num mundo egoísta, num mundo onde só é feito o que dá ibope, não temos tempo mais para nada, descontamos a falta de tempo no trabalho, no cansaço, no estresse. Por que não queremos assumir que somos pessoas formatadas por uma mídia, que nos tornamos preguiçosas diante de uma televisão ou mesmo de um qualquer eletrônico, o afeto, ah o afeto, esse não tem fio, não tem conexão usb, esse não dá pra compartilhar on line com sua lista de amigos, então é melhor deixar pra lá!
Falamos com pessoas populares, matamos as saudades pelo MSN, Orkut. Isso é possível!?
Quanto maior o seu número de amigos melhor, mesmo que você depois nem se lembre por que adicionou, mas além disso você precisa dos seus seguidores, pra ser popular tem que ter seguidores no Twitter.
Andar até a casa do amigo, ou pegar trânsito é démodé. O interessante é falar pela web cam
E quanto mais preguiçosas as pessoas ficarem diante de tanta tecnologia, menos amor vai haver no mundo, sim por que você não vai amar o seu amigo e sim o seu laptop de última geração. Mas você pode pensar que mandar um “eu te amo”pelo orkut ou facebook irá resolver, será que resolve a longo prazo, ou será que você descobre antes que na sua amizade “ocorreu um erro inesperado, tente mais tarde”.
Eu preferia a época em se namorava de verdade, que se tinha amigos de verdade, que as pessoas passavam horas escrevendo cartas, e não tinham apenas o espaço de 1024 caracteres para demonstrar o seu amor.
Enfim,...a era tecnológica me permite sentar em frente a essa tela, criar um blog, e dizer que sou de verdade, que tenho sentimentos, não tem muitos amigos no orkut, muitos seguidores no Twitter, mas amo todos os meus amigos independente de quanto amigos eles tenham, e que não permito essa preguiça demasiada me contamine.
Eu tenho tempo para tudo o que eu quero fazer, basta saber o que eu quero fazer de verdade.


(escrito por Bruna Lugarinho)

Só eu posso me fazer feliz,...

Tem dias que preciso ver o mar, tem dias eu preciso escutar a minha música preferida, tem dias que eu preciso ir na gaveta das fotos e rever uma por uma, tem dias que eu queria me afogar numa piscina de chocolate, tem dias que eu prefiro a chuva, tem dias que prefiro navegar na Internet do que ver filmes,..., tem dias que prefiro não existir.
Minha alma precisa de cores, sorrisos, melodias, paz, minha alma é infantil, minha alma é quase pura, minha alma é quase malvada.
Eu amo sorrisos, eu amo abraços, eu amo ver que aquela pessoa querida lembrou de você, eu adoro comentários nas fotos, no blog, por torpedo. Eu adoro reunir os amigos e falar besteiras, lembrar do tempo que passou e ficou na lembrança. Eu adoro coincidências, eu adoro multiplicar amigos, eu adoro fazer com as pessoas se sintam bem em minha companhia. Não gosto de esbravejar problemas, eles são meus, para as pessoas próximas talvez, aprendi com a vida que ser pessimista, negativa, traz uma energia ruim, e que viver cercada de cores, sorrisos e gente feliz é bem mais divertido. Não gosto de pessoas mentirosas, também não gosto de pessoas que precisam se auto afirmar e fazem tudo para serem aceitos, como se fossem marionetes. Esta a fim de gritar? Grita! Esta a fim de correr? Corre! Eu odeio a sensação de estar acorrentada e sorrindo ao mesmo tempo. O importante é ao terminar do dia você ter a certeza de que você foi você mesmo, e não um personagem. Eu prefiro viver feliz e com poucos amigos do que viver infeliz cercada de falsos amigos.
Eu preciso ser feliz, eu tenho essa obrigação comigo mesma, não vou mais permitir que pessoas me invadam e me digam como fazer e o que fazer para ser aceita. Nem vou sofrer se a calça jeans preferida já não entra mais, eu preciso olhar para frente.
Eu preciso de calma, eu preciso de tempo, eu preciso de uma grama para sentar, eu preciso de um sol para me dar energias, e aos poucos, talvez bem aos pouquinhos eu vou tentando me encontrar. Afinal, hoje eu tenho certeza de que a felicidade que eu preciso não está nos outros está em mim, no meu auto-conhecimento. Na certeza, única e exclusiva de que só eu sou capaz de me fazer feliz.



(escrito por Bruna Lugarinho)




quinta-feira, 9 de julho de 2009

*

"Eu sou mais forte do que eu."

Clarice Lispector

*

Guerreiros de Jorge

Outro dia estava voltando de carona no carro de um amigo e o som era muito bom, e perguntei quem estava cantando, ele me disse que era a banda Guerreiros de Jorge.
Assim que tive oportunidade baixei no E-Mule,..., me apaxonei!
Vale a pena conferir, o refrão não sai mais da minha cabeça.
Bjx





Dama de Vermelho


Ela aparentava ter uns 35 anos, era loira, porém suas raízes mostravam que era artificial, assim como tudo naquela mulher.
Ela não tinha um nome, ela tinha vários. Seu corpo não era escultural, mas como dizem por aí também não era de se jogar fora. Ela vestia um vestido fente única de veludo vermelho que deixavam seus peitos quase à mostra, transparecendo toda a vulgaridade daquela mulher. Seus cabelos estavam desgrenhados, sua maquiagem borrada, ela era conhecida como A Dama de Vermelho da Lapa, mas alguns diziam que seu nome era Vanuza
Ela perambulava de bar em bar, todos os dias como uma tradição, tinha um sorriso sarcástico em seu rosto. Mas ela tinha um bar preferido, o Faisão Azul:
- Juvenal, serve aquela pinga gostosa que só você sabe me servir.
- É pra já!
(ela bebe a pinga, sem careta e sem cara feia)
- Movimento ta fraco hoje né?
- Ta chovendo, aí complica.
- Nem tinha reparado. Deve ser por que nem as gotas de chuva me incomodam mais.
- Bom, ta aqui o seu dinheiro Juvenal. Até amanhã.
Vanuza sai do Faisão Azul e vai até a Joaquim Silva como faz todos os dias, rebola, sorri e acena aos conhecidos. De repente sente uma mão forte e pesada lhe segurar o braço:
- Aonde pensas que vai madame?
- E desde quando lhe devo satisfações?
- Você vai ser minha hoje.
- Aprende uma coisa. Eu não sou de ninguém.
Ela desvencilha o braço da mão pegajosa daquele homem que ela não lembrava nem mesmo o nome, e de bar em bar, acenos, risadas ao pé do ouvido, ela se despede da Lapa como todos os dias.
Ela espera seu ônibus no ponto, olha o relógio e esbraveja sozinha. Seus ônibus só irá passar daqui há 35 minutos. Acende um cigarro, acende outro e outro,..., Um homem com cara de cansado e uma mala na mão pára o seu lado e pergunta se a linha 337 para naquele ponto de ônibus. Ela responde com um sorriso e diz que sim, desvia seu olhar pra mala e sem nenhum sinal de constrangimento pergunta:
- Vai viajar, ou foi expulso de casa?
- Eu era zelador de uma boate que foi vendida. Hoje foi o último dia. O pior é que eu morava lá
- E você ta indo pra aonde?
- Ainda não sei, acho que pra casa do meu irmão. Mas minha cunhada não gosta muito de mim, então sabe como é,...
(ele abaixa a cabeça)
- Se quiser pode ir pra minha casa.
- Desculpa senhora. Agradeço o convite, mas,...
- Ô de deus, se você não tem pra onde ir, vai pra lá. Amanhã você toma teu rumo.
- Agradeço senhora,...
O ônibus chega, ela e o homem que nem ela sabe o nome sentam no ônibus. Vanuza sem nenhuma classe tira os sapatos que estão matando seus pés e começa a massageá-los.
O homem pensa que tipo de mulher é ela, não é feia, mas também não é bonita, mas não é de família, por que moça de família não fica ás 4 da manhã parada num ponto de ônibus sozinha em plena Lapa vestida daquele jeito. Enfim,..., é uma moça de bom coração, lhe cedeu a casa dela. Não se sentia no direito de fazer juízo de valor daquela senhora.
Ela pediu pro motorista parar no próximo ponto. Eles desceram, e caminharam por uns 10 minutos na fria madrugada. Sua casa era numa ladeira íngrime, ela tirou os sapatos e subiu descalça mesmo. Abriu a porta, e ele pode sentir o cheiro de mofo misturado com perfume vagabundo que vinha daquele lugar, ela tinha uma gata cinza que ela carinhosamente pegou no colo. Era uma casa de um cômodo só, mas era tudo muito bagunçado.
- Onde posso colocar a minha mala?
- Em qualquer lugar.
- Vou fazer um cafezinho, você quer?
- Aceito sim. E a senhora fica despreocupada que assim que amanhecer eu vou tomar meu rumo.
- Fique tranqüilo, fique o tempo que precisar.
- Posso usar o banheiro?
- Claro.
O banheiro era fétido. Ele teve vontade de sair correndo dali. Ele se dirigiu a ela e perguntou:
- Você mora sozinha?
- Eu sou sozinha.
(ela levanta subitamente se dirige para o centro do cômodo, como quem se sente incomodado pela pergunta)
- Vou fazer uma cama ali no chão pra você. Você pode até tomar banho, mas aqui não tenho água quente, e essa hora da madrugada a água vira gelo
- Não precisa se incomodar.
Ela começa a fazer a cama, os lençóis fedem a mofo puro e a almofada esta cheia de pêlos da gata de estimação.
- Não perguntei seu nome. Qual seu nome?
- Francisco.
- Hum,..Deita Francisco. Descansa um pouco.
Francisco para não fazer desfeita, deita. Por varias vezes engole a ânsia de vômito que toma conta do seu ser. Vanuza vai ate o banheiro troca de roupa e coloca uma camisola velha e se deita também.
O dia amanhece e Francisco levanta. Vanuza já esta acordada fumando na janela.
- Bom dia Francisco. Dormiu bem?
- Dormi sim Sra. Muito obrigada por tudo.
- Toma um golinho de café, está fresquinho.
- Obrigado.
Ele termina o café, pega a sua mala, agradece a hospitalidade e a porta se fecha.
Vanuza fica ali sentada, pensando.
Francisco desde a ladeira pensando.
Ele não para de pensar, de tentar entender aquela mulher, ela parece mulher da vida mas não é! Que ela deve ter um passado sofrido, e que no fundo ela só deseja ser amada.
Ela fica imersa em seus pensamentos, e pensa que de tão doída pela vida, homens pra ela são válvula de escape, seja pra caridade ou pra pagar uma pinga para aquele que implora pela saidera.
Ela se esconde na Dama de Vermelho, uma personagem fictícia que ela criou para esconder a alma que sangra todos os dias de um amor mal resolvido.


(escrita por Bruna Lugarinho)


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Espelho



Renata hoje se olhou no espelho. Não que ela não se olhe no espelho, mas hoje ela viu o que ela evitava ver.
Ela viu as cicatrizes que o seu rosto esconde, aquelas que não aparecem sobre a pele, mas aquelas que só ela mesmo pode sentir ao toque dos dedos..
Ela tinha sonhos, hoje ela tem desilusões. Ela tinha uma família hoje ela tem parentes.
Ela tinha projetos, hoje ela tem lembranças. Ela sorria com o olhar e com a alma, hoje ela sorri com os lábios mais por educação do que qualquer outra coisa. Ela comia sem transtornos alimentares, hoje ela toma remédios para emagrecer. Ela bebia socialmente, hoje ela bebe pra esquecer. Ela se relacionava bem com as pessoas, hoje ela apenas cumprimenta-as. Ela acreditava que todos que estivessem por perto diariamente eram seus melhores amigos, hoje ela tem dúvidas em afirmar quem são. Ela acreditava no amor, hoje ela acredito na banalização dele. Ela não tinha medo de raios e trovões, hoje ela não suporta ouvir os estrondos, lhe causam aflição. Ela deitava e dormia noite inteira, hoje ela tem insônia. Ela não conhecia a palavra solidão, hoje ela a acompanha. Ela tinha a coluna reta e longínqua, hoje parece que a cabeça quer encontrar o chão. Ela adorava seus cabelos, hoje eles vivem presos num coque mal feito. Ela tinha adoração pelo sol, hoje ela quer se esconder dele.
Ela ficou horas se olhando no espelho, até as pernas ficarem cansadas, até o telefone despertar o transe em que ela havia entrado.
Ela olhou o nome no identificador de chamadas e jogou-o em cima da cama.
As pessoas irritam Renata ultimamente.


(escrito por Bruna Lugarinho)

terça-feira, 7 de julho de 2009

O quarto



Suzana está entre caixas, roupas para doações, papéis rasgados, bilhetes, cartas, postais, ela está colocando tudo em envelopes e caixas distintas! Toda mudança causa uma certa bagunça, é a busca pelo novo, mas pra ela está sendo traumático.
Venderam, venderam a casinha dela, venderam tudo, quer dizer, tudo não! Os móveis, objetos pessoais,..., Poderão ser levados, mas o tudo o que eu digo é o seu passado, as lembranças, a infância, como se isso tivesse valor monetário e estivesse embutido nos zeros do bendito contrato.
Afinal, era nesse quarto que ela batia a porta quando ouvia um não, quando queria chorar pelo menino bonitinho do escola, quando queria apenas estudar, quando reunia as amigas para um tarde gostosa regada a pipoca e filmes no estilo sessão da tarde. Era nesse quarto que ela brincava sozinha de Barbie, ou mesmo depois de uma viagem era aquele quarto que ela aguardava ansiosamente rever, era seu mundo e ponto final.
Agora é um cômodo, como assim um cômodo, ela não se conforma, ela chora, grita com a cabeça enfiada dentro do travesseiro como se fosse aquela criança que chorava quando seu pai dizia que não poderia vê-la no dia combinado.
Um filme passa pela cabeça de Suzana, ela sorri e pensa como nenhum amor que ela viveu e acabou, causou esse buraco que um “cômodo” está causando nela!
Desculpas, não é um cômodo apenas, é o mundo de Suzana.
A nova casa sim,..., será um lugar cheio de cômodos, cômodos e cômodos. Ela não terá mais tempo pra construir uma história bonita nesse cômodo novo que com muita tristeza ela vai tentar chamar de quarto. Ela anseia outros objetivos, ela também não terá tempo para curtir esse “quarto” novo, ela passa o dia inteiro fora divida entre os livros e o trabalho, ela não é mais uma menininha. Ela quer casar, e se ela casar? Será o “cômodo” mais rápido de sua vida, o “cômodo” estranho será estranho para sempre.
O tempo está passando, e parece que o a cada minuto o “cômodo amado” quer que ela fique, que ela não o deixe,..., ela sente quase que como uma promessa que ele nunca esquecerá dela. É um pacto, pacto secreto, só entre eles.
Suzana tenta abraçar o cômodo, como quem abraça um amigo que deixará saudades.



(escrito por Bruna Lugarinho)

A hora da partida.


- Que mala é essa?
- To indo embora.
- Pra onde?
- Na rodoviária eu decido.
- Como assim? Você ficou louca?
- Mais ou menos.
- E seus amigos, sua faculdade,...?
- Vão ficar aqui.
- Você decidiu isso quando?
- Há três meses.
- E por que não falou nada?
(silêncio)
- Me diz por que você planejou tudo e não me falou nada!!!
- Eu não planejei nada.
- Como não, você esta com uma mala, dizendo que vai embora, e me disse que esta -planejando isso há três meses!
- Eu decidi há três meses, mas não planejo há três meses.
- Não entendo a diferença entre planejar e decidir.
- Eu só vim me despedir.
- Mas você não pode. Eu sou sua mãe e não vou permitir.
- Você que me mandou embora.
- Eu? Você está louca! Você só pode estar brincando.
- Todas as vezes que arranhou a minha alma com sua palavras que me soavam como uma navalha na pele.
- Você esta exagerando
- O mesmo exagero que você cometeu me aprisionando nos seus preconceitos e no seu medo de viver, de enxergar cores, eu nasci e nunca vivi!
- Você esta me magoando falando desse jeito.
( porta batendo)


Na rodoviária Vivian sente medo e euforia, e tenta enxergar em cada pessoa sentada naquele terminal o por que de estar ali. Visitar parentes, ir ao encontro de um grande amor, viajando a trabalho, doença de algum ente querido,....Ela esta ali por apenas um motivo, ela quer ser feliz!
Olha rapidamente o orelhão e desvia o seu olhar. Seu ônibus encosta. Ela entra, senta e sorri. E ao ligar do motor do ônibus ela se benze.



(escrito por BRUNA LUGARINHO)



segunda-feira, 6 de julho de 2009

A rotina existe?


Por muitas vezes já ouvi inúmeras pessoas dizendo a mesma frase: No início são tudo flores!! Realmente, no início nenhum defeito incomoda,..., nem aquele que aos olhos das outras pessoas parece ser bem irritante, ou aquele bem pequenininho!
Mas se pararmos pra pensar, existe coisa mais difícil do que conviver com um outro ser, que você nunca viu na vida, que de repente parece que você conhece há anos!? Olhos de apaixonados brilham tanto que causam até cegueira, acho que deve ser por isso!
Mas o tempo passa, a convivência diária muda a rotina, muda até a forma de pensar de uma vida inteira, as coisas que mais gostamos de fazer, antes sozinhos, ficam bem melhores com a companhia do outro,..., a individualidade se perde?? Ou tudo se torna mais atraente?? Os amigos, por mais que existam aqueles que batam o pé dizendo que não largam a amizade por um amor, até eles se afastam, a atmosfera é outra! E curtir a dois, é muito, mais muito gostoso!! Você não quer mais compartilhar com várias pessoas, você começa a querer compartilhar tudo com aquela pessoa, é como se a música só tocasse para vocês dois, mesmo com um milhão de pessoas em volta!
E o tempo vai passando,...A paixão se torna amor, o amor se torna ameno, mais compreensível, e quando você tem certeza de que é amor, pronto, você vai voltando a sua vidinha normal,.., a euforia se torna estabilidade, a saudade não é mais tão dolorida, ela é um mix de consciência e prazer! Que por muitas vezes é confundida com a malvada “rotina”!!
Mas o que seria a rotina? Seria ela ruim? Seria ela boa? Ruim, talvez pelo fato de as purpurinas, as borboletas terem saído de cena, e dado lugar a mesmice, ou chamaríamos de estabilidade? Boa, pelo fato de você ter uma rotina com que você ama, aquela rotina boa, sabe?!
Mas ninguém encara a rotina como uma coisa boa, e sim como uma vilã!
Mas existe amor com rotina!? Ou existe paixão sem rotina!?
Amar é melhor do que viver apaixonado?
Dá pra viver apaixonada depois de anos!? Mas eu to falando da paixão dos primeiros meses, a paixão, em que os defeitos não são conhecidos...aquela paixão ofegante!!
Ou viver o amor estável é mais confortável!??!


(escrito por BRUNA LUGARINHO)

Eu preciso...


Eu preciso me encontrar, eu preciso de flores, eu preciso de um cheiro, eu preciso de uma canção, eu preciso de uma fotografia, eu preciso eu preciso de um All Star jogado no meio do quarto, eu preciso de um papel e uma caneta.

No meu papel eu crio a ilusão, a forma, a verdade, a mentira, a história, a poesia, e quando alguém estiver lendo ninguém nunca vai saber se eu chorei ou tive aquele sorriso gostoso no canto da boca como meu companheiro. As idéias são minhas, os sonhos, as derrotas, eu conto o que eu quero, o que eu me permito, nada mais, é o meu mundo, usando as minhas palavras, os meus pensamentos, eu me liberto. Eu sinto o vento mesmo que as janelas estejam fechadas, nesse momento eu sou livre!

Eu preciso de papel, não suporto nesse momento tão íntimo comigo mesma aquelas insuportáveis janelas piscando, no papel ninguém me rouba de mim mesma, e quando eu venho escrever aqui eu não me permito mudar nada, afinal não nos encontramos duas vezes, nosso entendimentos são prolixos, e por que mudar a essência??

Eu preciso de um copo de água,..., eu preiso escrever, eu preciso me libertar, eu preciso me encontrar...

Permita-me.



(escrito por BRUNA LUGARINHO)