quinta-feira, 16 de julho de 2009

(...)

O telefone tocou.
Agora não tem mais jeito. A ansiedade se transformou em realidade, Martha atendeu o telefone a notícia soou como um vitória expressada em choro, gritos, socos no ar, pulos de alegria, mas pra quem estava ali dividindo a sala vendo aquela cena sentiu uma navalha cortando seus pulsos e víceras, um soco no estomago, queria vomitar o que não tinha comido, devido ao uso de inibidores de apetite que passou a usar desde que essa história começou.
Alice não podia chorar ali, ela não podia bater a porta e sair correndo e se esconder em algum cantinho, ela não podia falar tudo que pensava como uma metralhadora que mira em seu alvo, não, ela tinha que ter um sorriso no rosto e fingir, fingir que estava feliz, ela tinha que ser forte, mais forte do que tinha sido até ali.
E parece que o exército de seguidores dessa tal fulana sentiu essa energia que emanava dela e o telefone não parou de tocar. Era como se todos estivessem ali para roer o pouquinho de carne que restara do defunto.
Alice olhava para Martha como quem olha para um desconhecido, não a reconheci, não tinha sentimentos nenhum, só o de pena, o da indiferença. Afinal, ela tinha a vida toda pela frente, sonhos que nenhuma fulana mesmo com palavras de baixo escalão conseguiriam arrancar dela.
Existia uma diferença muito grande entre elas, não só a idade, mas sim o comportamento, Alice era determinada, gostava das pessoas, não se importa com a cor, com a opção sexual, com o nível econômico, ou mesmo se elas lhe trariam um benefício ou não, Alice queria fazer feliz todos ao seu redor, queria que todos se sentissem bem na presença dela, Alice queria ser amada.
Se a história de Alice não tivesse tantas feridas, diria que ela teria uma alma quase pura, quase infantil.
Já a tal fulana, não gosta de pessoas tem medo delas. É egoísta, mesquinha e principalmente rancorosa. Defende-se aos gritos e palavrões, e depois se esquiva em lágrimas, lágrimas essas que precisam de platéia, pois sozinha ela nunca chora. Eu prefiro chamar as pessoas que a cercam de seguidores, pois ela não tem amigos. Seguidores por que eles só a seguem em busca de algo em troca, parece até quem utilizam a mesma filosofia de vida, o interesse acima de qualquer coisa.
Martha durante muitos anos tentou tornar Alice uma pupila, uma discípula, mas nunca conseguiu. Alice sempre tentou entender, essa repulsa que a tal fulana tinha pela vida.
Um amor mal resolvido? Uma vida dura de ser vivida? A solidão?
Mas quem nunca teve um amor frustrado, mas quem nunca passou por uma dificuldade econômica, e a solidão apenas penso que seja reflexo de tudo que ela plantou ate hoje.
Ela se castiga ate hoje por não ter, com todas as suas artimanhas, detido o amor da sua vida, impedi-lo de ter ido embora. E toda essa frustração ela jogou na pequena Alice
Será que ela achou que a pequena Alice era capaz de transformar o mundo que ela tinha destruído? E a cada passo de destruição que ela causava a pequena Alice tinha que confortá-la?
Não sei como, nem sei por que, mas Alice permaneceu com seus valores. Tentou ganhar o mundo, mas não era tão ambiciosa quanto Martha.
Alice enxergava Martha como uma muralha de ferro, onipotente, pragmática, dura e severa. E aos poucos a razão, conceitos e valores de Alice foram destruindo essa muralha que ela enxergava no seu subconsciente e a transformou em uma flor seca com espinhos, quase um cacto.
E aos poucos essa historia foi tomando um rumo diferente, Alice cresceu e resolver independente de que Martha pensasse, fizesse, opinasse, ela seria ela mesma, defenderia com unhas e dentes seus sonhos e principalmente seu caráter. E Martha dizia quase que como uma mantra que ela nunca seria capaz de nada, que ela nunca seria feliz, que as pessoas nunca gostariam dela.
Suas palavras atingiam Alice como facadas, flechas e lanças. E aos poucos ela foi construindo um escudo, que hoje ela consegue se defender sem precisar sofrer tanto.
As cicatrizes causadas em Alice estão abertas, algumas sangram até hoje, Alice chora, Alice sofre, mas ela não sabe se sofre pelas palavras proferidas ou por pena do monstro que Martha se tornou. Ou se chora pelo futuro que ela não poderá compartilhar.
Seus seguidores obtêm lucros, vantagens dessa guerra que ela travou com Alice, por isso talvez o motivo se serem tão fiéis. Compraram a briga e como forma de agradecimento recebem o que querem, pedem o que querem e Martha sem muito pensar em valores monetários, ou por já não existir bom senso, ela entrega tudo como forma de agradecimento.
Seus seguidores são malandros, são sagazes, e sabem trapacear e enrolar Martha direitinho.
É uma pena.
Pois parece que o objetivo de vida de Matha, talvez por falta de ambições boas, se transformou numa guerra, num duelo armado contra Alice.
É complexo, é doloroso, é inútil tentar entender aonde, por que e como essa guerra começou. Às vezes penso que nem décadas de análise conseguiriam resolver essa questão, essas cicatrizes, esses medos, esses traumas.
Ainda mais quando se trata de mãe e filha.


(escrito por Bruna Lugarinho)

Um comentário:

  1. P.S.
    Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais terá sido mera coincidência

    Só tá faltando essa frase hahahahahaha

    Excelente o texto!!!

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